A audiência pública requerida e que será presidida pelo deputado Dr. Eugênio (PSB), na quinta-feira (5), na Assembleia Legislativa, será mais um capítulo do desespero mato-grossense contra as poderosas mãos que tentam inviabilizar a Terra de Rondon estrangulando-a por sua base econômica, o agronegócio, que a faz um dos pilares da política da segurança alimentar mundial.
Mãos poderosas têm nome e Mato Grosso precisa que as mesmas sejam identificadas. Debito a crise que se anuncia ao governador Mauro Mendes, ao ministro Carlos Fávaro, a bancada federal sem exceção, quase todo o Legislativo Estadual, a Famato, ao conjunto político do Vale do Araguaia – com as exceções de praxe e aos cabos eleitorais que a cada pleito se vendem para um e outro candidato paraquedista, de Alto Taquari a Vila Rica, de Santa Terezinha a Planalto da Serra, de Barra do Garças a Gaúcha do Norte.
A audiência é o que se chama enchente em córrego. Arrasta tudo às margens do pequeno curso d’água e quando deságua no grande rio não é percebida. Cuiabá considera Mato Grosso a área compreendida entre o Coxipó da Ponte e o Trevo do Lagarto. A cuiabania não se deixará influenciar pela manifestação araguaiense. Poucos residentes na região metropolitana irão ao ato. A imprensa vai menosprezá-lo, e seu espaço será para ouvir cautelosas manifestações de indiferentes deputados.
O Araguaia foi covarde com o Araguaia nas eleições em 2020 e 2022, quando a proposta do Zoneamento Socioeconômico Ecológico do Estado de Mato Grosso (ZSEE) estava nas manchetes.
Covarde!
Muito covarde!
Políticos locais detentores de mandato apoiaram candidaturas de outras regiões em detrimento aos locais. Cabos eleitorais se venderam àquele que melhor pagava. O voto comprado não leva o eleito a defender os interesses daquele que o elegeu. Será assim. O compromisso da maioria na Assembleia é com Mauro Mendes e não com o Araguaia. No momento da votação do zoneamento essa verdade será estampada.
ELEIÇÃO BOM JESUS DO ARAGUAIA – 2022
Mauro Mendes 75,89%
Assembleia Carlos Avalone 151 votos
A proposta do zoneamento não tem sustentação ambiental, econômica e social. É a defesa de um posicionamento para mostrar ao ecolouquismo internacional que além de preservar 62% de sua área contra a antropização, Mato Grosso está disposto a abrir mão do Araguaia, sua última grande fronteira da produção agropecuária e da faixa de fronteira, tendo Vila Bela da Santíssima Trindade como referência, para a criação de uma área binacional destinada a indígenas inexistentes de ambos os lados da linha imaginária que une os irmãos brasileiros e bolivianos.
ELEIÇÃO SANTA TEREZINHA – 2022
Senado – Wellington 74,88%
Câmara – Fábio Garcia 803 votos
Assembleia – Max Russi 788 votos
A insustentável tese do zoneamento liderado pelo contador e secretário de Planejamento e Gestão (Seplag) Basílio Bezerra, que não tem nenhuma experiência na área, é um ataque fratricida, na esperança que o mesmo lá na curva do tempo se junte ao projeto da criação da Grande Nação Xavante, independente, desvinculada do Brasil e sob as bênçãos da ONU graças a opção antinacionalista do presidente Lula num ato repugnante no passado.
Não se faz necessário discutir o zoneamento na esfera ambiental, que jamais sustentaria sua criação. É preciso leva-lo para o embate político, não de forma genérica, mas dando nome aos bois. A bala de prata tem que ficar reservada para Mauro Mendes, a menos que ele recue, volte à sensatez e tire a corda do pescoço do Araguaia. Outras balas ficam para Carlos Fávaro, parlamentares, prefeitos e vereadores da região, Famato e para o Ministério Público Estadual (MP).
Para se compreender o contexto do zoneamento é preciso criar uma curva do tempo. Vamos a ela:
A elaboração do zoneamento começou em 2008. Três anos depois a Assembleia Legislativa o aprovou e o governador Silval Barbosa o sancionou. Porém, o MP o achou brando e entrou na Justiça para impedir que o mesmo entrasse em vigor. Vitorioso com uma liminar o MP acompanhou os passos da Seplag no aperfeiçoamento que pedia, num procedimento moroso e mantido longe da opinião pública. Em 2016 o governador Pedro Taques representado pela secretária de Meio Ambiente e promotora de Justiça licenciada, Ana Luiza Ávila Peterlini de Souza, deu prosseguimento à elaboração e a conclusão aconteceu em 2018, que era ano eleitoral. O zoneamento poderia ter sido concluído no período sob Taques, pois de março de 2016 a dezembro de 2017 o então vice-governador e agora ministro Carlos Fávaro foi secretário de Meio Ambiente, com ascendência sobre a Seplag. Fávaro é produtor rural e sabia muito bem o que estava em curso, porém, ele optou por lavar as mãos. Favaro, mesmo omisso, caiu nas graças do Araguaia que ajudou a elegê-lo senador em 2020.
ELEIÇÃO BARRA DO GARÇAS – 2020
Senado Carlos Fávaro 48,81%
Com o zoneamento elaborado em 2018, Taques deixou o governo, uma vez que não se reelegeu no pleito daquele ano. Em janeiro de 2019 Mauro Mendes assumiu o Palácio Paiaguás, com o zoneamento à espera do amanhã, mas somente no final de 2020 o assunto voltou à cena. A Seplag optou por consultas públicas, por conta da pandemia da covid-19, e produtores chiaram: queriam e querem audiências públicas argumentando que a maior parte dos que produzem no campo não acessam internet, e que além disso o sinal digital é precário em muitas regiões. Não houve entendimento.
Não importa o custo. Mauro Mendes quer o zoneamento. Creio que se o governador fosse algum de seus antecessores (Taques, Silval, Blairo Maggi e Dante de Oliveira) o posicionamento seria o mesmo. Não podemos nos esquecer da indiferença política de Cuiabá em 2012, quando se anunciou a desintrusão da antiga fazenda do Papa para a criação da reserva Marãiwatsédé dos xavantes, que resultou na demolição da vila Estrela do Araguaia, mais conhecida como Posto da Mata. A classe política mato-grossense permaneceu calada. A imprensa jogou a caneta e o microfone fora – no Araguaia, o saudoso jornalista Calixto Guimarães lutava contra aquele absurdo, e em Cuiabá nunca me curvei a ele, mas o conjunto jornalístico da capital debochava da situação.
Mauro Mendes desqualifica o pequeno eleitorado do Araguaia e tem tamanha força política que em 2026 chegará ao Senado ainda que a região de Norberto Schwantes, Valdon Varjão, Dr. Eugênio, Naftaly Calisto, Maurício Tonhá, Homero Alves Pereira, Antônio Paulo da Costa Bilego, José Queiroz, Fernando Tulha, Carmem Bruder, Cezalpino Mendes Teixeira, Carlos Orione, Rejane Garcia, Roberto Cruz, Luzia Guimarães, Eduíno Orione, Roland Trentini, João Abreu Luz, Luiz Carlos Nunes Castelo, Leonardo Zampa, Raquel Campos Coelho, Rubens Rezende Peres, Railda de Fátima Alves, Ari Zandoná, João Carlos de Souza Meirelles, Hélio do Carmo, Gaspar Lazzari, Dalva Peres, Calixto Guimarães, Irmã Vita, Wolfgang Dankmar Gunther Hornschuch, Noely Paciente Luz, Luis Schuster, Osvaldo Evaldo Diehl, Dom Pedro Casaldáliga, Luiz Elias Abdala, Janailza Taveira, Professor José Ferreira Lima, Lúcio da Luz, Filemon Gomes Costa Limoeiro, Arquimedes Pereira Lima, Wilmar Peres de Farias, Sandoval Nogueira de Moraes, José Antônio de Almeida – Comandante Baú, Anísio Vilela Junqueira Neto – Netão, Luiz Gustavo Bernacchi, Mário Cezar Barbosa, Aldenor Milhomem da Cunha, Fernando Gorgen, Gercino Caetano Rosa, Joraildes Soares – Jo, Heronides Araújo, José Pontim, Iron Marques Parreira, Érico Piana Roberto Farias – Beto, José Pereira Maranhão, Marcelo Aquino, Patrícia Fernandes de Oliveira Vilela, Fábio Faria, Neldo Egon Weirich, Ladislau Cristino Cortes, Patrícia Paiva Alencar, Daniel do Lago, Ricardo Corrêa, Sebastião Júnior, Professor Sivirino, Luiz Cancian, Laércio Fernandes Fassoni, Vereador Dr. Neto, Dedé Moura, Germano Zandoná, Nercindo Iappe, Generoso Rodrigues, Ataíde Arcoverde, Getúlio Viana, Francelino Pedro da Silva Filho, Abmael Borges, João Cleiton, Demilson Nogueira, Humberto Bosaipo, Zeca Viana, Manoel Ferreira dos Santos – Manoel da Prelazia, Selso Lopes de Carvalho, Antônio Joaquim, Adilson Gonçalves de Macedo, Olinda Saggin, Inês Coelho, Divina Oda, Lincoln Saggin, Joaquim Bananeiro, Parassu de Souza Freitas, Valdemir Antônio da Silva – Quatro Olhos, Marco Aurélio Fullin, Mauro Rosa da Silva, Antônio Tadeu Martins Escame, Thiago Castellan Ribeiro, Noêmia Presser Niedermeier, Lairton João Sperandio, Otávio Eckert, Louremberg Nunes Rocha, Nelson Paim, Thiago Timo Oliveira, Getúlio Dutra Vieira Neto, Ronivon Parreira das Neves, Jerônimo Samita Maia Neto, Fábio Garbugio, Rônio Condão, Edio Brunetta, Ernando Cardoso, Elson Faria de Souza – Mará, Marcilei Alves de Oliveira – Mansão, Luis César de Lara Pinto Filho – Cesinha, Marilda Garofalo Sperandio, Luzia Nunes Brandão, Marcos de Sá Fernandes, Vanessa da Mata, Nelson Barbudo, Pedro Lima, Célia Orione, Pedro Bonetti, Luiz Henrique do Amaral, Romão Flor, Wanderlei Farias, Joaquim David dos Santos – Quincas, Jonir de Oliveira Souza, Márcio Conceição Nunes de Aguiar – Baco, Vasco Mil-Homens Arantes, Gilberto Do Val, Gilmar Reinoldo Wentz, Antônio Flor, Paulo Jacob Thoma – Paulo Alemão, Uslei Gomes, Eliane Cassiano, Luiz Omar Pichetti, Marcos da Rosa, Tarcísio Cardoso Tonhá, Endrigo Dalcin, Carlito Guimarães, Alberto Schlatter, Geraldo Carvalho Júnior, Eduardo Moura, Osmar Kalil Botelho Filho – Mazinho, Eduardo Bonini, Sadi Soares, Celso Tura, Odoni Mesquita Coelho, Rafael Govari e Mariano Kolankiewicz vote em peso contra ele.
ELEIÇÃO CONFRESA – 2022
Mauro Mendes 70,34%
Senado Wellington Fagundes 69,24%
Câmara Fábio Garcia 2.172
Além de enfrentar força política, o Araguaia ainda se depara com a Justiça. O Brasil experimenta uma amarga quadra da judicialização das decisões do Executivo e do Legislativo. Lamentavelmente isso acontece da menor comarca de primeira entrância ao STF, como se vê no julgamento paralelo do Marco Temporal das Terras Indígenas pelo Congresso e o STF. O saudoso deputado Homero Pereira, ex-presidente do Sistema Famato, foi o autor do projeto desse marco.
A hora do embate é agora. De um lado o Araguaia. Do outro, Mauro Mendes. E não se trata de reprise de Davi contra Golias, pois se a região soubesse a força que tem esse cenário jamais aconteceria. Quanto ao Judiciário, nada impossível. O Brasil é palco de decisões sobre decisões, de conflitantes interpretações da Lei. Não temos a cultura a súmula vinculante,
A Famato, poderosa federação do curral e do arado, acomodada em sua mordomia, é omissa nessa questão. Foi assim com Posto da Mata. Quando muito a entidade oferece seu Departamento Jurídico, mas nunca promoveu seminários e outros eventos para conscientização de acadêmicos, comerciantes, empresários, formadores de opinião sobre as questões que afligem sua base sindical. A nababesca cúpula da Famato tem recursos e meios para tirar a cortina de fumaça que Basílio Bezerra a mando de Mauro Mendes joga sobre o Araguaia, mas não faz.
Cuiabá é sede da AMM, uma entidade sanguessuga das prefeituras, mas que não defende os municípios. Dessa luta do Araguaia nunca participou o não prefeito Neurilan Fraga que a preside desde 2015. Para a AMM basta receber mensalmente o quinhão que as prefeituras lhe enviam.
Não vejam radicalismo neste texto. Quando alguém viu a moderosa máquina de Comunicação de Mauro Mendes em defesa do Araguaia? Quando Eduardo Botelho, Max Russi e Janaína Riva, que controlam a Assembleia, assumiram posicionamento em defesa do Araguaia? Quando a bancada federal vestiu a camisa do Araguaia? Quando a Famato e a AMM questionaram o zoneamento?
Gostaria que meu pensamento estivesse errado. Desejo sorte ao líder do movimento no Araguaia, o deputado Dr. Eugênio, que é radicado em Água Boa. Aguardemos a audiência pública, onde estarei na condição de repórter. Espero que o simbolismo da data – marco da promulgação da Constituição do Brasil – inspire os participantes, pois nossa Carta Magna nos assegura liberdade. Porém, temo que a venda de votos e de apoio nas eleições anteriores seja trava na boca de muitos políticos e cabos eleitorais da região diante da classe política liderada por Mauro Mendes que deseja Morte ao Araguaia.
EDUARDO GOMES
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